Há dois anos, um dos nossos primeiros Vinis da Semana contava com a participação de 'Phanerozoic I: Palaeozoic'. Hoje, a Gabi traz novamente a banda The Ocean para o quadro, dessa vez com a continuação do disco citado, 'Phanerozoic II: Mesozoic | Cenozoic'.
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Se você caiu de paraquedas e não leu a primeira review, aqui vai um resumo: o The Ocean (ou The Ocean Collective) é um projeto de post-metal progressivo com alta rotatividade de músicos, liderados por Robin Staps, criador, mastermind e único membro restante desde a fundação. Porém, o projeto encontrou certa estabilidade com a entrada dos membros atuais ao longo dos últimos anos, caracterizando-se, agora, mais como uma banda do que como um coletivo.
O projeto de Robin Staps se destaca dentro do post-metal: todos os seus álbuns são conceituais, muitas vezes duplos. E, além disso, foi pioneiro em abordar temas geográficos e geológicos, como as idades geológicas da Terra e as zonas oceânicas; tudo isso alinhado à conceitos filosóficos. A banda entrega uma gama de conteúdo ao ouvinte e uma experiência bastante enriquecedora a cada trabalho lançado. E não foi diferente com Phanerozoic II.
A faixa de abertura, “Triassic”, inicia a era Mesozóica e continua a história do ponto onde a parte 1 terminou — o grande evento onde 95% da vida na Terra foi extinta. Musicalmente, “Triassic” é uma canção de abertura mais minimalista e progressiva, lembrando muito o groove característico do Tool. Mas ao longo de seus mais de 8 minutos, os versos suaves crescem até a música explodir nos refrãos, com toda a força e brutalidade que os vocais de Loïc Rossetti podem oferecer.
A incrível “Jurassic | Cretaceous” encerra a era Mesozóica e se consagra como, talvez, a melhor música da carreira da banda até o momento, e a melhor canção do disco de longe: é progressiva, densa, épica, grandiosa. O primeiro single contou novamente com a participação de Jonas Renkse, do Katatonia. A voz de Renkse casa muito bem com o som do The Ocean, com linhas etéreas e serenas, e a música fez a alegria da galera que curtiu a colaboração em “Devonian: Nascent” do disco anterior.
Tomas Liljedahl, do Breach, emprestou os vocais agressivos em “Palaeocene”, música que inicia a era Cenozóica. A faixa é um soco no peito que lembra a brutalidade das primeiras músicas do Precambrian. Mas numa súbita mudança, “Eocene” retoma o riff “Tool-lístico” de “Jurassic | Cretaceous”, com o baixo em destaque e levadas de bateria à lá Danny Carey, que introduz o ouvinte à segunda metade do disco mais intimista. Na sequência, “Oligocene”, segundo single, surpreende com sua pegada eletrônica — um dos melhores instrumentais da banda.
A repetição e simplicidade característica do instrumental do post-metal mostram as caras em “Miocene | Pleistocene”, mas com uma vibe bem mais tranquila e etérea, com um dos refrões mais bonitos do grupo. Porém, “Pleistocene” adquire um perfil bem mais sombrio e urgente, atingindo o auge com a sessão inspirada no black metal, com blast beats e gritos desesperados, no meio da música. Por fim, “Holocene” encerra o disco de forma serena, com a novidade dos vocais de Paul Seidel, baterista da banda; também se diferenciando bastante do encerramento da primeira parte, onde “Permian: The Great Dying” parece uma bomba em forma de música. A música retoma os versos de “Triassic”, a abertura, dando a sensação de ciclicidade, cumprindo com o conceito filósofico do disco sobre o Eterno Retorno.
Enquanto Phanerozoic I fazia um resgate às raízes do denso post-metal do início da carreira, a parte 2 assume uma faceta totalmente diferente — uma abordagem mais progressiva, minimalista e menos explosiva. É um trabalho intimista e sua beleza mora, também, nós detalhes. Apesar de não ser tão grandioso quanto a parte 1, Phanerozoic II encerra essa trilogia sem decepcionar e consagra o The Ocean Collective como uma das bandas mais únicas da atualidade.
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