Vinil da Semana: 'The Atrocity Exhibition: Exhibit A' & 'Exhibit B: The Human Condition' - Exodus | Review

O Exodus é uma das principais bandas de thrash metal da história. Isso é um fato. Alguns dizem até mesmo que é a banda responsável por criar o estilo. Poucos vão debater o lugar que um disco como Bonded By Blood tem no hall do gênero. A potência que um vocalista como Paul Baloff teve nesse período é inegável, os maiores clássicos da banda estão nesse álbum, agressividade e genialidade, mesmo que muitas vezes se mostrando de maneira simples na cozinha da banda, sempre se fez presente, e quando vemos esse álbum em debates com os clássicos do gênero, você sabe que ele tá ali pau a pau brigando pela posição absoluta.

Pra ouvintes de longa data do VNE, não precisaria muito tempo pra saber minha opinião sobre o período da banda com Zetro. Para não familiarizados, digamos que seria muito plausível que uma banda que carrega tanto peso em seu nome quanto o Exodus tivesse condição de encontrar um vocalista melhor (embora até eu tenha que reconhecer um álbum como Tempo of the Damned). Na saída do Zetro, foi encontrado o tal vocalista em Rob Dukes.

Eu sempre entendi o Exodus como Gary Holt e Tom Hunting. Perto da época da saída do Zetro, saiu junto Rick Hunolt, dupla de guitarra junto a Holt, para a entrada de Lee Altus (Heathen). Tom Hunting havia saído por um breve período, onde foi lançado o álbum Shovel Headed Kill Machine, em 2005. Hunting retorna em 2007 e, aqui, marcamos o início de um período completamente diferente de tudo que o Exodus havia lançado até então.

O primeiro do conjunto de álbuns foi lançado já em 2007, The Atrocity Exhibition. O álbum abre com um single que oferece uma agressividade que lembra o Exodus inicial, mas já temos uma demonstração de que a banda soa mais complexa que o normal. As próximas faixas são apenas demonstrações dessa ideia em versões estendidas. Além dessa ideia, as músicas soam mais pesadas que o habitual, e o clima é mais pesado do que já em qualquer outro álbum da banda, aliado às melodias da dupla de guitarras. A banda parecia ter visto o retorno de outros gigantes do gênero, Kreator, com esse thrash mais melódico, pegaram a fórmula e expandiram em tempo, ambientação, complexidade e agressividade. “Funeral Hymn”, “Children of a Worthless God”, “The Atrocity Exhibition” e “Iconoclasm” mostram um Exodus que não sabíamos da existência. A maior parte das faixas eram todas ainda escritas por Gary Holt, então encontrar algo assim, nesse ponto da carreira, era um surpresa muito agradável, além de uma demonstração da química que já havia com essa formação e do reconhecimento do que cada um ali poderia entregar. Fora que um senso de mais riscos a serem tomados fica bem evidente, principalmente em “Iconoclasm” e “Bedlam 123”, mas cada um dos riscos se tornam qualidades bem rapidamente.

The Human Condition, lançado em 2010, é o segundo do grupo de álbuns e não perde tempo em seguir o template do seu antecessor. 6 das 7 primeiras faixas possuem mais do que 6 minutos de duração. A banda sempre entregou em qualidade em suas passagens com faixas mais curtas, mas presenciar cada segundo de faixas mais longas, em sequência, a banda em totalidade jogando sempre em seu nível mais alto, e a cada momento parecer algo completamente novo, mesmo num gênero como Thrash Metal, é completamente surreal. Até hoje parece que ainda é possível encontrar coisas novas em cada nova audição. São poucas as bandas que conseguem puxar um movimento desses e não decepcionar os fãs mais tradicionais e ainda agradar os fãs modernos.

Um ponto que ainda não foi comentado muito a fundo: o vocal. Parece um elemento que poderia passar batido em bandas de thrash, visto que a qualidade desse aspecto nunca foi um foco tão grande mesmo para as maiores bandas do gênero (estou olhando pra você, Dave Mustaine). Mas o que Rob Dukes faz nesses 2 álbuns é de deixar qualquer fã boquiaberto. Em momentos mais calmos (até “limpos”), que são vistos em “Children of a Wothless God” e com mais frequência no segundo álbum, casam muito bem com o clima das músicas. Mas em sua maior parte, Dukes soa como alguém prestes a te atacar a qualquer momento. Muito da agressão das músicas se deve simplesmente por ele estar ali. A forma que os vocais rasgados são empregados dá a impressão que o homem está prestes a desmaiar com o tamanho da força e raiva que se faz presente. Por ser a reposição de um vocalista chamado de clássico, ou que pode ser considerado como parte integral do som da banda, existem fãs que não vão com a cara do vocalista mas, a impressão que fica é que, se esses dois álbuns fossem lançados fossem lançados na década de 1980, Rob Dukes seria considerado um dos maiores vocalistas a ter adentrado o gênero. Só mesmo esse tipo de vocalista poderia ter lançado uma regravação do Bonded By Blood (Let There Be Blood, 2008) e ainda ter alguns que dizem preferir a versão regravada. É disso que estamos falando aqui.

Os dois álbuns apresentam características integrais pra álbuns de Thrash: É raivoso, agressivo, é cativante, pesado. Exodus sabe usar essas qualidades, e ainda assim conseguir fazer com que o som grude. Novamente, os dois álbuns ousam arriscar, experimentar, trazer o novo num gênero tão enraizado nas suas tradições. E dá certo. Gary Holt usa do melhor de cada um da banda, mesmo com membros novos como Lee Altus e o já falado Rob Dukes. O casamento com Lee entrega frutos muito rapidamente, parecendo que os dois já tocavam juntos há muito tempo. Holt é considerado um dos maiores riffmakers que todo o Metal já viu, e esses dois álbuns conseguem demonstrar que o homem ainda tinha muito mais no seu arsenal e com a mesma qualidade, se não acima. Talvez o que tenha faltado nos dois álbuns seja um aspecto cru, como de álbuns clássicos, mas não é um revés, visto que em todo momento os álbuns não deixam o nível abaixar em todo outro aspecto.

Essa formação da banda lançou 3 álbuns. 1 regravação e 2 álbuns totalmente novos. Pensar no que ainda poderia ter sido é um exercício doloroso de ser feito. Presenciar um time no mais alto do seu nível e ver trocas sendo feitas quando o nível ainda está tão alto sempre traz desejos de que deveria acontecer de novo, ou que não vamos presenciar algo assim novamente. Talvez seja pelo melhor. O período que Cliff Burton esteve no Metallica tem o encanto que tem pois os 3 álbuns em que ele esteve ali são excelentes. Diz muito quando a ausência do homem se faz presente também no álbum que segue esses 3. A fase Rust In Peace do Megadeth tem seu encanto também, mas vimos o momento que aconteceu a queda brusca do auge absoluto da banda. O Exodus com Rob Dukes viveu 2 álbuns do mais alto patamar que o Thrash pós 2000 pode presenciar e acabou. O sentimento é de dor e admiração gigantesca. Os 2 álbuns são top 5 pessoal desse thrash pós 2000. Para uma banda tão enorme quanto o Exodus, num gênero que eu amei e amo tanto, eu não tinha o gosto de falar que eu tinha mais do que 1 álbum que eu retornava sempre. Agora eu tinha 3 obras fantásticas de um som que, muito possivelmente, não irá acontecer novamente. Mágica foi feita. Nossa sorte é que temos a gravação disso. Agora o que fica é apenas nostalgia, saudade e o pensar como algo tão maravilhoso foi deixado tão rapidamente.

Zetro Retorna em 2014.


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