Vinil da Semana: 'Dimension Hatross' - Voivod | Review

Para o #VinildaSemana, o Paulo traz aqui pra gente um álbum clássico, que influenciou muita coisa do que ouvimos hoje nas vielas mais esquisitas do metal e ainda assim não tão reverenciado quanto deveria: 'Dimension Hatross'  do Voivod!

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Quando eu entrei no Metal, a sensação que eu tive foi que o Thrash fosse me abraçar pra sempre. Megadeth continua sendo minha banda favorita da vida, e direto eu me vejo escutando Exodus, Kreator, Dark Angel, etc. Alguns desvios aconteceram no meio do caminho que me levaram ao Prog e suas extremidades no Avant Garde. Não era mais só Dream Theater e Opeth, mas sim Ulcerate, Gorguts, Cynic e afins. Com o tempo, me foi gerando a curiosidade de checar origens e encontrar pontos de conexão entre os gêneros, especialmente pro Avant Garde, já que era tão diferente. A banda que melhor engloba esses universos é o Voivod.

Os canadenses possuem uma carreira que inicia em 1982, com um som que era influenciado pelo NWOBHM e pelo punk, que é muito demonstrado nos seus 2 primeiros álbuns. Em 1987, eles dão início numa sequência de 3 álbuns em 3 anos que seria fundamental para o desenvolvimento desse Metal esquisito no futuro. 

O álbum Killing Technology (1987) é um álbum de Thrash com uns toques de Prog que não eram imaginados pra banda na época, marcando um novo direcionamento. AO MEU VER, o trabalho de 1989, Nothingface, é um álbum de Prog com uns toques de Thrash, onde vemos algumas outras influências no som do que as que haviam no início, com a banda fazendo cover de Pink Floyd e com riffs que quase que emulavam Stravinsky. 

Influenciados por mais ficção científica distópica, a banda lança o que é considerado o Magnum Opus dos caras veio em 1988, com um álbum que marca o equilíbrio entre Thrash e Prog, chamado Dimension Hatross. Com algo raríssimo de se ver no Thrash, se trata de um álbum conceitual que narra a exploração do Korgull (mascote da banda), após já ter destruído uma parte gigantesca do universo, precisar continuar conquistando mais e mais, o que faz com que este conduza um experimento onde ele acaba criando um portal para outra dimensão, onde a tentativa de conquista não vai exatamente como planejado. O álbum, basicamente, questiona a sede por poder, até onde isso pode ser levado, fé cega, tudo isso num ambiente intergalático. 

As letras são muito bem feitas e bastante visuais, mas a trilha sonora… O que foi apresentado no excelente Killing Technology foi elevado à décima potência aqui. Essa vibe de “metal sci-fi” se tornou ainda mais forte. Isso não é Thrash do mesmo jeito que é ouvido em bandas como Metallica e Slayer, ou até mesmo nas que empurram as barreiras do gênero, como Coroner e Watchtower. A voz do Snake não parece com nenhuma das grandes bandas, soa como algo extremamente nasalado e ainda com um drive muito forte, soando psicótico. 

Eu devo ter ouvido mais Thrash e Prog do que eu deveria na vida e, até hoje, mesmo com a mudança de formação da própria banda, nunca ouvi um guitarrista igual ao Piggy, que mescla muito bem entre velocidade, técnica, sem perder a estética criada por ele mesmo, além de usar os efeitos de um jeito que, mesmo no mais bizarro, a música continua grudenta da melhor maneira possível. Os riffs, por mais rápidos e complexos que sejam, ainda são atmosféricos. Não atmosféricos como o que é associado a maior parte das vezes com “atmosférico”, mas é algo como se você estivesse numa paranóia sobre quando o planeta estará prestes a explodir. Tanto é que, na última faixa, “Cosmic Drama”, temos a tentativa desesperada de voltar pra casa, graças a insatisfação e ao medo durante a viagem. 

Depois de anos ouvindo esse álbum, ainda parece que algo novo sempre aparece toda vez. A história já é bem fotografada, mas a sonoridade acaba se revelando a cada nova audição. Esse álbum, essa sequência na qual a banda estava por si só, solidificaram o lugar dos caras como lendários. E saber o quanto eles mudaram depois, passando por fases até Hard Rock, Prog Rock, pra estarem no Avant Garde de hoje, e ver o quanto eles ainda são recebidos com o prestígio que mereceram ganhar. 

As torcidas de nariz que a banda recebe geralmente vem de quem não deu chance a eles. O quanto esses caras inovaram numa época que eles poderiam muito bem ter continuado com aquele som básico (e ótimo, não se perca aqui) já é de se admirar. Entregar algo diferente assim, ser extremamente bem recebido, continuar se reinventando constantemente e ser recebido com os mesmos braços abertos, porque reconhecem a qualidade da banda? Enquanto os drones voivodianos estiverem em cima do Metal, o gênero respira qualidade e mais bandas com ousadia em tentar.

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