Alcest, memórias, sensações e a saudade do que a gente não viveu ainda



Por João Pedro Peralta

Eu não quero que isso se transforme em um texto motivacional, com aquele papinho batido de gratidão ou sei lá o que. E, não, isso não é uma resenha. É apenas um texto, uma reflexão. Diante disso, eu vou fazer as coisas do meu jeito.

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“Saudade do que a gente não viveu ainda”. A frase que virou meme há uns anos, define bem a minha relação com um uma vertente específica: o blackgaze, Post-Black Metal ou seja lá como preferir chamar.

Lembro que, na primeira vez que ouvi Alcest, através do “Souvenirs d’un autre monde”, tive dificuldade para mensurar o que aquilo me causava. Eu, ainda embriagado por uma visão juvenil, que buscava grandiosidade, peso e excessos, não compreendia o que aquela sonoridade causava em mim. Mesmo sem entender o que aquelas palavras, cânticos e sussurros significavam, eu sabia exatamente o que deveria internalizar. Os sonhos de Neige, também tornavam-se meus.

Era sobre fechar os olhos e imaginar. Embarcar em uma experiência sensorial. Por vezes, eu ouvia e sentia como se meus momentos, automaticamente, se transformassem em uma cena cinematográfica. E minha mente, inevitavelmente, era tomada por saudade, por uma sensação nostálgica que eu não conseguia entender. A saudade de coisas que eu não vivi, mas gostaria de ter vivido. E, também, de momentos que eu gostaria que fossem eternos. Do vento, do som das árvores, do cheiro da primavera.

A partir desse disco, eu passei a descobrir um novo mundo na música. Um mundo repleto de influências, contrastes e sensações que eu não conhecia. Um espaço onde a vociferação e a dissonância do Black Metal se tornava tão sutil e sensível que soava como uma reviravolta predestinada. A combinação perfeita.

Sinceramente, não me importo se soa pesado o suficiente, agressivo o suficiente, ou “Metal” o suficiente. São apenas rótulos e, no fim das contas, isso importa pra quem? Aqui nós falamos de música e eu não me importo se esse texto faz algum sentido. Por vezes, a própria música não faz sentido, mesmo que Pitágoras tenha estudado as sensações causadas por esse agrupamento sonoro, essas vibrações variadas se propagam até os limites da nossa imaginação e transcendem significados.(É, eu não entendo muito de teoria musical e nem de física, mas o ponto central disso tudo são as sensações, tá?).

Enfim, eu vejo um pouco da música do Alcest dentro de mim, pois sou sentimentos que eu sinto ou sentirei. Por vezes, sou onomatopeias melodiosas. O equilíbrio do racional e do irracional. Sou a construção daquela visão inocente. Sou a nostalgia por memórias que eu nunca vivi. E, talvez, todos sejamos um pouco disso.

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