Vinil da Semana: 'Auschwitz Tropical' - Basttardz | Review


Iniciando os trabalhos de uma semana importante para o futuro do país, o Wellerson traz pra gente um disco que acabou de sair do forno: a pedrada 'Auschwitz Tropical' dos maranhenses do Basttardz!

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Basttardz é uma banda de Hardcore/Crossover Thrash da cidade de São Luís (MA). Formado em 2019 eles têm uma clara influência musical em bandas como Ratos de Porão, D.F.C., D.R.I., Municipal Waste e Suicidal Tendencies. Eles lançaram seu primeiro álbum de estúdio em 2020, intitulado "Brasil com Z", com letras antifascista, anti-imperialista, antisistema, ou seja, bem politizada. Em outubro de 2022 a banda lança mais um álbum de estúdio, "Auschwitz Tropical", a formação conta com André Nadler (vocal), Inaldo Costa (Guitarra), Adriano "Texugo" (Baixo) e Gabriel "Gabs" (Bateria).

O álbum começa com a faixa título que já inicia com um riff de guitarra bem Crossover, um trabalho de bateria bem contagiante, um baixo com uma sonoridade bem pesada e o vocalista que consegue exprimir muito bem a sensação de revolta que a letra passa, que inclusive fala sobre democracia, desmatamento da Amazônia, desigualdade social, críticas a exploração da classe trabalhadora e o ponto principal que dá nome ao álbum que é a violência policial, nos momentos finais é apresentado samples de reportagem narrando sobre o caso Genivaldo de Jesus dos Santos, que ocorreu em Umbaúba, no sul do estado de Sergipe, em maio de 2022. No dia em questão a Polícia Rodoviária Federal abordou esse homem de 38 anos por não usar capacete enquanto pilotava uma moto e como resposta improvisou uma câmara de gás no porta-malas de uma viatura, ele estava imobilizado, trancado e inalando gás; só removeram ele depois de morto, uma técnica que lembra muito o que foi feito nos campos de extermínio nazistas, Auschwitz por exemplo, circularam na época vídeos aterrorizantes desse homem se debatendo dentro da viatura até a morte, o laudo do IML apontou que asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda foram as causas da morte. A polícia diz que usou "instrumentos de menor potencial ofensivo" e a música vai encerrando num eco com essa frase. É mais um caso revoltante de violência policial contra um pobre e preto; infelizmente casos como esse tem se tornado cada vez mais comum nas comunidades do Brasil e pior ainda, essas práticas têm apoio de políticos e inclusive do atual presidente do Brasil, Bolsonaro. É preciso lutar contra esses casos de violência, contra essas práticas fascistas feita pela polícia contra nós, já dizia aquela famosa frase 'Se fere minha existência eu serei resistência'.

A segunda faixa "O Despertar da Besta" já começou com gritos do vocalista falando "Caos! Destruição! Alienação! A besta governa a nação", com uma guitarra bem rápida, uma bateria veloz que dá uma vontade de entrar no "mosh", a música é praticamente tiro, porrada, bomba e muita crítica social. A música faz clara referência ao genocida Jair Bolsonaro que ajudou no resultado das 700 mil vidas perdidas durante a pandemia da Covid-19, ao invés de comprar vacina para população fez propaganda de um remédio chamado hidroxicloroquina que não tem qualquer comprovação científica de eficácia no combate a essa doença. A música nos seus momentos finais manda o recado que a arma da banda é a música, o microfone e que a banda tem muita munição. A próxima faixa "Cotidiano dos Tiranos" faz uma dura críticas aos políticos que não tão nem aí para a população, vivem uma vida cheio de privilégios, não entendem o cotidiano dos mais pobres, querem remontar os tempos da ditadura militar, apoiam a tortura, a censura e roubam dinheiro publico. A próxima música "Febre do Rato" que faz uma crítica à moralidade e o conservadorismo bastante presente no Brasil, uma música bem direta ao ponto, com uma sonoridade bem típica do hardcore.

A próxima música "Traficando Informações" começa com uma batida de rap bem interessante que pega o ouvinte de surpresa, nos primeiros versos a letra fala sobre traficar um baseado feito de fatos reais, para acender a mente das pessoas para a guerrilha popular e assim injetar doses de revolução. Mantendo a linha revolucionária é dito num trecho da música "Molotov é a solução" e "Renegando a submissão", que ecoam como gritos de ordem antissistema. Logo após nessa mesma faixa é dado uma pausa pra uma parte 2, onde o ritmo da música muda e entra o baixo do Adriano "Texugo" que faz um trabalho muito bom e é mandado aquele recado bem na cara do rockeiro conservador que diz que rock e política não se mistura, Basttardz chega e manda o papo "Hardcore antifascista, filhos da revolução", nesse momento não tem como não tirar o chapéu pra essa banda. Logo depois começa "Zeronoveoito", fazendo uma referência ao DDD do Estado do Maranhão e liricamente a faixa funciona como um protesto e faz duras críticas aos problemas sociais sofridos pela população maranhense, como por exemplo a violência, a miséria e o desemprego. A penúltima faixa "Revolta" é autodescritiva e muitas pessoas vão se identificar com a letra, por exemplo no trecho "Pra que namastê se eu posso mandar se fuder?", é uma frase que eu vou levar pra vida nos embates contra gente intolerante, fascista e preconceituosa. Não tem essa de diálogo ou ser paz e amor contra quem prega o ódio. Realmente precisamos nos revoltar.

E pra encerrar, a última música "Cova Rasa" que começa com uma bateria bem violenta que é impossível não bater cabeça nesse momento e o Gabriel "Gabs" fez um excelente serviço nessa faixa. As linhas de guitarra do Inaldo Costa também tem seu protagonismo com excelentes escolhas de riffs e mantendo a pegada Crossover Thrash da banda. A letra dessa música fala sobre a desigualdade social, e questiona "Porque poucos com muito e tantos com pouco?" e logo após afirma "Um país tão desigual o descaso é natural".

Basttardz descreveu o disco "Auschwitz Tropical" como uma sequência esmagadora de músicas que falam do cotidiano desgraçado do cidadão brasileiro. Tenho que concordar que o álbum passa de forma bem crua a realidade atual brasileira. A falta de empatia de algumas pessoas (principalmente os mais ricos) e da classe política alinhada ao presidente genocida que nega que tem gente vivendo na miséria e passando fome nas ruas, faz a gente questionar como essas pessoas conseguiram chegar ao poder? São tempos nebulosos, o pessimismo vem a cabeça o tempo todo, mas devemos manter a cabeça erguida, independente do resultado das eleições, não podemos ter medo, é isso que eles querem. Vamos levantar, resistir, ocupar as ruas, revoltar, protestar e não nos calar, já dizia o revolucionário anarquista espanhol Buenaventura Durruti “Fascismo não se debate, fascismo se destrói”.

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